Porto já tem doce típico. A Delícia do Porto é esta!

“É difícil adormecer à noite. Cada vez que abro as minhas páginas de facebook, há sempre novos e muitos comentários sobre a Delícia do Porto”, Gabriela Ribeiro

Gabriela Ribeiro foi a vencedora do concurso Delícia do Porto, uma iniciativa criada com o objetivo de eleger a melhor especialidade de doçaria do Porto, que retratasse “as memórias e saberes” da região, “com criatividade e inovação”.
Da mesma forma que existem os doces do Algarve, os Pastéis de Tentúgal ou os Ovos-moles de Aveiro, estava na hora, segundo a organização, de eleger a Delícia do Porto.

 

E Gabriela Ribeiro pôs mãos à obra quando tomou conhecimento do desafio. Gabriela trabalha há 30 anos em doçaria e encarou o concurso como uma espécie de “prova dos nove”. Habituada a criar doces de autor na sua pastelaria (Gaby a minha casa), em Ovar (a partir do pão de ló, Gabriela já criou cerca de 30 variedades, como o gelado de pão de ló ou a broa de pão de ló, inspirada no pão de rala alentejano), Gabriela deparou-se, neste caso, com um conjunto de critérios a cumprir. O concurso determinava que a Delícia do Porto teria que ser representativa da cidade, contar a sua História e ter ingredientes locais.

 

O primeiro passo de Gabriela, doceira nascida no Porto, foi abrir os livros de História. Descobriu que em 2020 celebram-se 200 anos da doação do coração de D. Pedro IV à cidade “como forma de agradecimento pela lealdade do povo à causa liberal”. E quando juntou esta nota histórica à expressão “levar o Porto no coração”, Gabriela identificou a forma do seu doce. A Delícia do Porto seria um coração. “Muita gente não sabe que o coração de D. Pedro IV existe na realidade e encontra-se na capela-mor da igreja da Lapa”, conta Gabriela.

O passo seguintes: a seleção dos ingredientes.

 

A Delícia do Porto tem miolo de pão (ingrediente usado na Sopa Dourada que se fazia no Convento de S. Bento): “muitas pessoas também não sabem que a Estação de São Bento foi antes um Convento”. Ao Convento de Santa Clara, Gabriela foi buscar o milho. E escolheu o feijão branco, em homenagem à gastronomia típica do Porto e das Tripas à moda do Porto, que são confeccionadas com feijão branco. O rabelo que a doceira colocou em cima do coração traz-nos o mar e as nuances de glace, as ondas e as tempestades associadas aos feitos históricos via marítima.

 

A Delícia do Porto foi eleita há seis dias e desde então, o rodopio na pastelaria de Gabriela Ribeiro não tem dado tréguas: “vêm pessoas de todo o lado, todos perguntam pela Delícia do Porto”.

 

Para Gabriela, esta vitória tem de facto um sabor doce. É o “reconhecimento do trabalho de 30 anos”. E da paixão que nasceu quando, aos seis anos, via as suas seis tias freiras em ação na cozinha.  Nas festas, as tias regressavam a casa e punham em prática a doçaria conventual. Faziam trouxas de ovos, fios de ovos, ovos queimados (um doce cuja receita ficou na família).

 

Gabriela Ribeiro faz parte da quarta geração desta família religiosa. É a autora da Delícia do Porto. E está de parabéns!