A gastronomia é, claramente, um dos grandes ícones identitários da cultura de uma nação,

ganhando especial relevância em países como Portugal, onde uma história com mais de 800

anos se foi escrevendo com fortes influências das tradições de nativos de outros países que por

cá foram passando; cores, texturas e sabores de ingredientes estranhos ao palato ibérico

foram-se afirmando ao longo dos tempos, acabando por se enraizar e até, eventualmente,

nacionalizar. Será, muito possivelmente, o caso da Aletria (essa sobremesa tão nossa), que se

julga ter sido trazida para a península ibérica entre os séculos VIII e IX, aquando da presença

árabe nestes territórios.

No contexto nacional, uma das grandes bandeiras gastronómicas é a doçaria regional e

conventual portuguesa. De norte a sul do país, do interior ao litoral, a riqueza dos receituários

doces portugueses conquista todos aqueles que nos visitam e que não deixam de se maravilhar

com a diversidade de sabores que o nosso património gastronómico tem para oferecer; a

história que o acompanha constitui, sem dúvida, um valor acrescentado para quem prova.

Contudo, e contrariamente ao que seria de esperar, denota-se (principalmente) nas gerações

mais novas algum grau de desinteresse e, consequentemente, de desconhecimento face

àquela que é uma das nossas maiores riquezas.

O projeto “Portugal a Pão de Ló” pretende, além de homenagear verdadeiros ex-líbris da

doçaria tradicional portuguesa, despertar novamente a população para a beleza das tradições

nacionais e suscitar o interesse pela defesa de uma cultura gastronómica que é um dos grandes

cartões de visita do nosso país. Ao utilizar como matéria prima o Pão de Ló de Ovar, produto

cada vez mais conhecido mundialmente e que ocupa, orgulhosamente, a sexta posição na lista

dos Melhores Bolos do Mundo, divulgada pelo guia de renome “The Taste Atlas”, partimos

numa viagem pelo mapa visitando regiões como o Alentejo ou o Algarve, onde podemos dar a

conhecer doces típicos como o Pão de Rala ou os D. Rodrigos, aos quais incorporámos a nossa

iguaria vareira. Desta forma, a experiência vivida por quem nos acompanha não se prende

apenas com uma visita à cidade de Ovar, mas também com uma narrativa cativante sobre

como os nossos doces contam a história de uma nação.

Na Gaby – Pastelaria d’ Autor, as experiências disponibilizadas em torno do Pão de Ló de Ovar

são diversas, não fosse ele mesmo o Rei. Nas provas de degustação, além dos derivados de pão

de ló já enunciados, podem ainda ser saboreadas a Sopa de Ló com Vinho do Porto, inspiradana Sopa Dourada, as bolachas de pão de ló, as Claras de Ovar, com inspiração nos tradicionais

Pastéis de Tentúgal, entre muitos outros. Como não poderia deixar de ser, visitando esta

unidade de produção do “Pão de Ló Celeste”, em Ovar, existe também a possibilidade de

assistir a uma demonstração da confeção do doce, que é acompanhada de uma descrição

detalhada acerca da origem do mesmo, bem como dos métodos de confeção utilizados no

passado.

Sendo Ovar a casa da marca “Pão de Ló Celeste”, e considerando a vontade de levar a cabo um

projeto pautado pela inovação respeitadora na gastronomia portuguesa, a Gaby – Pastelaria d’

Autor deu vida ao “Azulejo de Pão de Ló”; a uma base de hóstia que se cobre com massa e

creme de pão de ló de Ovar, junta-se uma fina camada de massapão, que será pintada à mão

de acordo com o padrão pretendido. A escolha será, certamente, a etapa mais difícil, dado o

vasto leque de opções disponível nas diversas fachadas azulejares que embelezam a cidade de

Ovar.

A loja da Gaby – Pastelaria d’ Autor é, também, marcada por um encontro entre o passado e o

presente; a decoração incorpora, num espaço luminoso e aberto, elementos mobiliários e

peças de cerâmica seculares, preservando memórias visuais de tempos longínquos em que as

famílias se reuniam em torno da preparação de momentos gastronómicos. Os utensílios

antigos de cozinha são, também eles, mantidos em exposição (e alguns em utilização),

garantindo assim a autenticidade das receitas e a prova visual de uma herança inigualável,

fruto de uma forte vivência conventual nas gerações anteriores da família.

A promoção da gastronomia portuguesa é, ainda que inconscientemente, feita por todos; por

entidades públicas do setor do turismo, pelos operadores turísticos que apresentam o nosso

país a quem nos visita, pelos comerciantes tradicionais que lutam pela preservação das suas

raízes. Uma visita a este espaço garantirá, certamente, uma viagem pela cultura portuguesa em

tom de gratidão pelo legado de um património que não pode, nem deve, ser esquecido, e irá

contribuir para um conhecimento aprofundado da inigualável tradição vareira que é a confeção

de Pão de Ló de Ovar.

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